Sobre o DCTO 164 – Posição do PBHZ quanto ao pronunciamento em Encontro de Mulheres na CE – SC/IPB 2025
- Coletivo MPB
- 17 de abr.
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Carta de Mulheres Presbiterianas enviada ao Secretário Executivo da IPB no dia 9 de abril de 2025, via e-mail: secretaria@executivaipb.com.br
Prezado Rev. Juarez Marcondes Filho – Secretário Executivo do Supremo Concílio
Igreja Presbiteriana do Brasil
Mas tudo seja feito com decência e ordem
I Coríntios 14.40
Desejamos que esta manifestação lhe encontre bem e com saúde.
Diante da realização da CE – SC/IPB 2025 (08/04/2025 à 11/04/2025) rogamos as bençãos de nosso bom Deus a todas e todos presentes nesta reunião na cidade de São Luís - MA, bem como toda a comunidade presbiteriana espalhada pelo Brasil afora.
Como Coletivo de Mulheres Presbiterianas do Brasil estamos sempre nos movimentando de forma organizada, bem como extremamente conscientes do papel e atuação das mulheres presbiterianas, desde a origem do Presbiterianismo Brasileiro e em igrejas pelo Brasil afora na atualidade. Especialmente a partir de 2018, temos tristemente acompanhado as resoluções do Supremo Concílio sobre a participação das mulheres nas igrejas.
Lamentamos o fato de que, não toda a IPB, mas um grupo barulhento de pastores e membros presbiterianos tenham alçado um arbitrário e questionável ‘protagonismo’ para fraudar uma cultura existente em nossas igrejas há muito tempo. Afinal, diante dos últimos desvios emplacados no “apagar das luzes” - e sob algazarra geral - nas reuniões do Supremo Concílio, ainda nos perguntamos: por que temer a atuação das mulheres nos púlpitos? Qual é exatamente o incômodo? E mais: por qual razão, especialmente entre os anos de 2018 e 2022, se chegou ao entrelaçamento de ideias como sendo as mesmas verdades bíblicas nos controversos Doc. CCLII e Doc. CCLIII – SC/IPB 2022? Quer dizer que, em mais de 150 anos de história e impacto na sociedade brasileira, a IPB não seguia a Bíblia com relação ao tratamento e espaço destinados às mulheres? Podem ser validadas suposições frágeis e tendenciosas embasadas em versículos ideologicamente pinçados da Bíblia ou diante do mau uso de perguntas e respostas do Catecismo Maior e afins sem as devidas contextualizações?
Somos gratas ao bom Deus por termos ouvido um pouco de reflexão na fala do Revdo Roberto Brasileiro no V Encontro da Mulher Presbiteriana, realizado no dia 3 de novembro de 2022 no Centro de Convenções do Hotel DiRoma, em Caldas Novas - Goiás. Como também louvamos a Deus e agradecidas ficamos por descobrirmos que na CE – SC/IPB 2024, a pauta sobre as mulheres nos púlpitos e na distribuição dos elementos da Santa Ceia foi novamente debatida e abraçada favoravelmente por quase 80 presidentes de sínodos presentes na mesma reunião, dentre o total de 95 sínodos constituídos da IPB.¹ Lamentavelmente e por pouco, faltou a unanimidade das matérias conforme os ritos institucionais.
Contudo, no intuito fraterno, legítimo e democrático de explicitarmos nossos questionamentos como mulheres que prezam a “igreja reformada, sempre reformando”, sinalizamos o aparecimento de um documento via ICalvinus com destinação para a CE-SC/IPB 2025 que, ridícula e erroneamente, atribui a autoria de nosso abaixo assinado (e por proximidade também a Carta de Mulheres Presbiterianas à IPB) ao grupo Ecclesiae Renovare: nos referimos ao DCTO 164 – Posição do PBHZ quanto ao pronunciamento em Encontro de Mulheres, pois citado nele: “Essa mesma "ecclesiarenovare" foi a que produziu e espalhou um tal abaixo assinado" na tentativa de confrontar o SC/lPB e produzir um movimento de revolta das mulheres presbiterianas” (pg. 13).
Só podemos entender que a menção ao abaixo assinado de tal forma foi em total e inapropriado descompasso quando atestada ao grupo Ecclesiae Renovare. Neste caso, citamos também descaso por acréscimo do uso de letras minúsculas e/ou confusão em não cumprimentos de regras gramaticais básicas da língua portuguesa (“ecclesiarenovare” - grafia incorreta), além de inverídicas afirmações da mobilização para tornar público o mesmo abaixo assinado.
Mas o agravo maior fica retido à imagem do Coletivo de Mulheres Presbiterianas do Brasil. Nesse sentido, é válido rememorar que o referido abaixo assinado está diretamente ligado à Carta de Mulheres Presbiterianas à IPB que teve publicamente a sua autoria atestada em publicação da Revista Coisas de Gênero: Revista de Estudos Feministas em Teologia e Religião lá no ano de 2023². Somos mulheres contemporaneamente arrojadas. Estamos atentas aos sinais dos tempos. Sabiamente e sob iluminação divina, usamos inicialmente o artifício do anonimato para a publicação de nossa manifestação irrestritamente em prol do cuidado coletivo e, por extensão, ao não enquadramento sob o risco de agendas personalistas.
Temos ciência de que tal mecanismo, ou seja, o fato de inicialmente não manifestarmos a autoria COLETIVA da carta e o abaixo assinado, causou extremadas reações em muitos que se afirmam pastores da IPB. De certo, assim reagiram na tentativa de alçarem rápido protagonismo em debates que escapam das fronteiras eclesiásticas, bem como por estarem fixados na lógica de projetos pessoais, dos fã-clubes em redes socias, da venda de cursos e materiais e assim por diante. Sim, em nossa objetiva interpretação, o fim e o meio são de incentivo à egolatria. Isto quer dizer, bem distante de ações comunitárias e construídas por diversas mãos, como foi o caso de nossa caminhada desde o início.
Todas nós temos voz, rosto e nome. Acertadamente, nossos nomes estão lá, grafados entre os primeiros endossos à Carta. Também em nosso site (https://www.coletivompb.com) apresentamos mais detalhes sobre a nossa realidade: 50 % de participantes do Coletivo estão há mais de 35 anos na igreja.
Lamentavelmente, e de forma escandalosa, devemos ressaltar que faltou aos membros do Presbitério Belo Horizonte o zelo exemplar dos crentes de Bereia ao examinar, investigar e verificar se e o quê foi ouvido ou escrito era a verdade dos fatos. Além do mais, sinalizamos com extrema preocupação o fato de que um documento repleto de argumentações dicionarizadas e de um tom considerado ironicamente mirabolante, nos fez indagar sobre possíveis manipulações dos trâmites e fluxos de documentos institucionais e regimentais. Isto quer dizer que a CE-SC/IPB 2025 derrapa na credibilidade do fluxo institucional que lhe é devida. E não só, mas em pior situação, fica o Presbitério Belo Horizonte, por ter cedido espaço e tempo preciosos para uma argumentação de base descabida, de possível promoção pessoal do artigo apregoado como ‘requerimento’ pelo articulista principal diante da referida informação falsa de autoria e sintomática impossibilidade de reconhecer e entender a lógica coletiva. Afinal, não seria egomania referendar autocitações de frases, e até mesmo livros, na tentativa de reverberar qualquer argumentação?
Entendemos ter agido corretamente o Sínodo Belo Horizonte em sua devolutiva, embora a mesma devesse ter sido carregada de tom mais enérgico diante do possível uso de má fé da ‘arguição’ evidentemente apresentada desde a sua origem. Se há tamanho desrespeito e descuido na utilização de argumentações falsas, bem provavelmente outros episódios erráticos podem ocorrer ou até mesmo foram abafados anteriormente.
Compreendemos que todas essas manobras relativas ao fluxo de encaminhamentos de documentos tendem a manipular os trâmites institucionais (via reuniões de presbitérios e sínodos) bem como aquelas outras que se referem aos pastores presbiterianos em vídeos e/ou postagens estridentes, acusatórias e persecutórias nas redes sociais, em relação às mulheres presbiterianas, NÃO fazem bem à Igreja Presbiteriana do Brasil. Nosso coletivo monitora essas aparições, entendendo que são os mesmos irmãos (?) que também escandalosamente se apresentam como se fossem porta vozes oficiais da Igreja Presbiteriana do Brasil e ‘absolutos portadores de verdades bíblicas’. Esses senhores, de agendas hiper personalistas, confundem a própria sombra com a imagem integral da IPB: estão abrindo plataformas ‘educacionais’, vendendo cursos, formações, livros e afins. Todas as ações do tipo são lamentáveis e só servem aos projetos de deseducação dos preceitos bíblicos, teológicos e eclesiásticos em nossa seara e para além dela.
Na realidade, nossa interpretação segue o raciocínio de que são estes senhores agentes referendados apenas e tão somente pela cultura machista e misógina que nos cerca e nos condiciona, enquanto igreja/parcela da sociedade, a sermos um país violento para mulheres de todas as idades, raça/etnia, de todas as classes sociais, regiões e religiões. E assim o fazem utilizando-se da instrumentalização da fé cristã evangélica como respaldo para tantas atrocidades e atitudes desprezíveis.
Segundo reportagem do Le Monde Diplomatique Brasil de 14 de mar 2025³, a maioria, total 42,7% de mulheres que relatam violência doméstica no Brasil, professa a fé evangélica, conforme levantamento do Relatório Visível e Invisível: a vitimização de mulheres no Brasil - Fórum Brasileiro de Segurança Pública/Instituto Data Folha. Embora ainda em maior número, dentre a população católica foi registrado índice de 35,1%. Outros dados que saltam aos olhos diante da leitura cuidadosa desse relatório são que nove em cada dez agressões contra mulheres nos últimos 12 meses foram testemunhadas por outras pessoas. Estas testemunhas oculares em 86,7% são pertencentes aos círculos social ou familiar das vítimas. Triste demais saber que apenas 6% das vítimas buscam acolhida nas igrejas. E por qual razão? Nós enxergamos as violências e vamos continuar denunciando-as, pois o Evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo é acolhedor, de amor, da comunicação não-violenta e da justa paz. E todas as nossas igrejas não podem se eximir de pregar a mesma mensagem.
Nesse sentido, lamentamos o fato de que o evangelho salvífico de Jesus Cristo também destinado exemplarmente às suas várias discipulas no NT, como nos atestam as teologias bíblicas produzidas por várias mulheres pelo mundo afora, está bem longe dessas repetidas manifestações de menosprezo, destrato e de não reconhecimento das mulheres presbiterianas, especificamente dentre aquelas que se sentem chamadas aos púlpitos, ministrar os elementos da Santa Ceia bem como escrever cartas públicas e constituir engajamento para assinatura de abaixo assinados como se não houvesse nenhum lastro de iniciativas assim na história da Reforma Protestante.
Nossas ações serviram e servirão tão somente chamar a atenção da alta cúpula da IPB para os perigos e delinquência pastoral contrária às mulheres. O cerco promovido só tende a reforçar uma triste constatação: a igreja está envelhecendo mal e não em vigor do florescimento e boas sementes, mas em descaso com sua tradição bíblica, formação teológica de qualidade e afronta às mulheres, infâncias e juventudes em nossas comunidades. O espírito cismático não está em nós!
¹Cf. Dados Estatísticos IPB, via Secretaria Executiva SC. Disponível em: https://www.executivaipb.com.br/estatisticas/. Acesso em 31 mar 2025.
²Cf.: https://revistas.est.edu.br/genero/article/view/1832. Acesso em 24 mar 2025
³ Cf.: https://diplomatique.org.br/violencia-domestica-e-prevalente-entre-evangelicas/. Acesso em 24 mac 2025.
Parabéns irmãs! A nossa manifestação é muito importante e oportuna. Na fé, na esperança e no amor...sempre!